quarta-feira, 21 de outubro de 2009

Uma curiosa surpresa das Jandaíras

Caros amigos,

Cada dia que passa eu fico supreso com capacidade de trabalho das abelhas, em especial minhas pequenas Jandaíras, hoje abri uma caixa que me mandaram do Meliponário Rural pois a mesma, segundo me informaram, estava bastante "gorda" (cheia de mel) e estava na hora de realizar a colheita.


A colônia está alojada em caixa nordestina, modelo tradicional, não é o modelo que mais me agrada mas por uma questão de conveniência ainda não resolvi mudá-la para outro modelo, contudo como está agora no meliponário urbano certamente será passada para uma de melhor manejo pois servirá de matriz para futuras divisões.

Pois bem, ao abrir a caixa, não vi tanto mel assim, realmente a caixa está com muito mel, acredito que pela quantidade de potes (infelizmente eu esqueci de tirar uma foto dessa área) deve ter aproximadamente uns 800 ml do mais puro néctar do Sertão, mas pelo peso da caixa era para ter mais de 2 litros, não tinha isso tudo por um detalhe surpreendente, a surpresa foi a cobertura feita sobre toda a caixa feita pelas abelhas.


A espessura do batume tem mais ou menos cerca de 3 cm e está cobrindo toda a caixa que tem exatamente 70 cm de comprimento por 12 cm de largura, pelo peso essa bela cobertura deve ter quase 1 kg do mais puro trabalho diário de uma forte colônia de Jandaíra.


Não retirei toda a cobertura, apenas parte dela para ter acesso ao lugar do ninho, como tinha muitas abelhas e elas estavam me dando muitas beliscadas e tentanto entrar nas caixas erradas resolvi suspender a inspeção/colheita pois não queria aumentar ainda mais o estresse, amanhã devo mudar toda a colônia para uma caixa modelo INPA com mais calma e paciência.




Após recolocar a caixa no seu devido lugar, fiquei imaginando quanto trabalho tinha sido dedicado pelas pequenas e poucas Jandaíra para realizar aquela dura tarefa. Certamente, muitas gerações de abelhas foram responsáveis pela construção daquela bela proteção por elas contruída.

Isso é que dedicação ao trabalho e vida em conjunto.

att, Mossoró-RN, 21 de outubro de 2009


Kalhil Pereira França

Meliponário do Sertão

Descoberto "parasitismo" social em espécie de abelha sem ferrão

Em cada período de sua curta vida uma abelha-operária comum passa pelo chamado “polietismo etário”, ou seja, ela exerce por um determinado tempo uma tarefa específica na colméia, desde sua fase reprodutora, passando pelos períodos em que sai da colméia para recolher néctar e pólen. No entanto, a pesquisadora Denise de Araujo Alves do Instituto de Biociências (IB) da USP, em colaboração com o doutor Tom Wenseleers da Universidade de Leuven na Bélgica, descobriu que algumas abelhas da espécie Melipona scutellaris, também conhecida como uruçu, não participam desse processo, permanecendo a vida toda da colônia, colocando seus ovos nas células de cria dentro do favo.

A pesquisa também mostrou que as abelhas exclusivamente reprodutivas tinham uma idade de aproximadamente 110 dias, o que não é comum para a espécie, que costuma viver por cerca de 31 dias. “Nós acreditamos que elas passaram a vida toda se reproduzindo e sem passar para atividades mais arriscadas”, explica a pesquisadora. Ela comenta ainda que se essas abelhas tivessem saído da colméia para, por exemplo, buscar alimento, elas provavelmente teriam uma vida mais curta, já que essa é considerada uma atividade de alto risco.

A reprodução das abelhas obedece a um princípio chamado partenogênese, onde os óvulos fecundados produzem fêmeas e os ovos não-fecundados produzem machos. As Melipona scutellaris, abelha sem ferrão encontrada nos trechos de Mata Atlântica do Nordeste brasileiro, também são capazes de produzir ovos, contudo, como elas não podem ser fecundadas, todos os seus filhotes nascem machos. A abelha-rainha é a única que tem a capacidade de produzir descendentes dos dois sexos, as fêmeas, que se tornam operárias ou rainhas, e os machos, conhecidos popularmente como zangões, estes também pelo processo de partenogênese.

Parasitismo social

Contudo, o que é mais curioso no caso das abelhas que permanecem se reproduzindo pela vida toda é que elas privilegiam os seus filhotes em detrimento dos da rainha. Cada célula de cria no favo é construída pelas abelhas para que a rainha deposite um ovo. Lá é disponibilizado alimento para que a larva se desenvolva até se tornar uma abelha. O problema é que as abelhas-reprodutoras também depositam seu ovo e fecham a célula para que seu filhote desenvolva.

Dessa maneira, o trabalho realizado pelas abelhas-operárias visando o desenvolvimento dos filhotes da rainha é apropriado pela abelha-reprodutora. “Se as operárias começam a por ovos, elas deixam de trabalhar dentro da colônia e começam a se reproduzir de forma egoísta e entram em conflito com a rainha, pois ela que é a reprodutora da colméia.”

A pesquisadora entende que o mais relevante dessa descoberta é que mesmo com a morte de uma rainha e a chegada de outra, as abelhas-reprodutoras continuam vivendo em razão própria. “Acreditávamos que assim que uma nova rainha se estabelecesse, as abelhas-reprodutoras descendentes dessa nova rainha é que poriam os ovos, e isso não foi exatamente o que aconteceu. O que se viu é que as abelhas ligadas a rainha anterior continuavam na colônia pondo os ovos, o que chamamos de parasitismo social,” esclarece a bióloga.

Denise acredita que essa reação esteja ligada às relações de parentesco entre as abelhas. “Para elas (as operárias-reprodutivas) é muito melhor criar o seu próprio filho do que ficar criando, no caso dessas abelhas que ultrapassam gerações, o filho da sua sobrinha, o seu sobrinho-neto.”

Prevalência da geração anterior
A pesquisa faz parte da tese de doutorado da bióloga, desenvolvida no Laboratório de Abelhas do Departamento de Ecologia do IB. O estudo, que é mais amplo que as evidências encontradas, está voltado para a análise da produção de abelhas sexuadas em pequenas populações de Melipona scutellaris, mais especificamente uma população na sua zona de ocorrência natural, em Igarassu, Pernambuco, e duas populações isoladas no estado de São Paulo. Por abelhas sexuadas entenda-se os machos e a rainha de cada colméia.

Justamente por analisar os machos dentro da colméia, Denise quis descobrir qual era a quantidade de zangões que não eram filhos da rainha. Em uma parceria com a Universidade de Leuven, ela analisou a geneticamente os machos para saber qual era sua ascendência.

Dos zangões analisados cerca de 23% não descendiam da rainha, mas sim das abelhas-reprodutoras. E dentro desse grupo 80% eram filhos das abelhas ligadas à rainha anterior. O que pode demonstrar que a relação de parentesco é um fator importante para o parasitismo social entre as abelhas.

Para a pesquisadora, o parasitismo não chega a prejudicar o funcionamento da colméia. Das cerca de 3 mil abelhas que chegam a habitar simultaneamte uma colméia, as abelhas-reprodutoras chegam a apenas 4% do total (de acordo com estudo realizado em outra espécie de abelha sem ferrão). “É uma fração tão pequena de abelhas que faz isso, que não causa nenhum dano à colônia.”

Fonte: http://www.usp.br/agen/?p=8815

terça-feira, 20 de outubro de 2009

Últimas sobre a Mandaíra

Amigos do Meliponário do Sertão,

Hoje pela manhã fiz um inspeção na colônia da nossa experiência (Jandaíras criando mandaçaias), passado quase 20 dias do início dos trabalhos, praticamente não há mais abelhas Jandaíras, somente mandaçaias, todas as abelhas já nasceram e estão trabalhando construindo potes de alimento, vi a mesma princesa anterior que ainda não desenvolveu a sua fisiogastria, me parece que ainda não foi fecundada, mas tem um ótima aparência, parece muito ativa é bem trata pelas suas amas, antes de abrir a caixa observei alguns machos tentando entrar na colônia para, acredito eu, fecundarem a princesa.

Percebi poucas abelhas e achei necessário inseri um outro discos grande de mandaçaia das minhas caixas e um outro disco já em estado bem avançado, já todo retalhado com abelhas jovens eclodindo, utilizei os disco de MQA, não vejo problemas pois sempre faço divisões misturando as duas e sempre vingam.

Não há forídeos e o excesso de lixo foi retirado por mim para ajudar as abelhas no seu trabalho, forneci ainda um pouco de lamelas de cerume para cobrir o discos doado.

Agora é esperar mais um pouco pois até agora a nossa princesa não foi fecundada.

att,

Mossoró-RN, em 20 de outubro de 2009


Kalhil Pereira França
www.meliponariodose rtao.blogspot. com
Mossoró-RN

segunda-feira, 5 de outubro de 2009

Jandaíras criando Mandaçaias (Mandaíra) parte II

Ontem, já passado pouco mais de 10 dias do início da experiência da Jandaíra criando mandaçaias, temos bons resultados para informar sobre nossos trabalhos:

1) A caixa já está bem dominada por mandaçaias, as abelhas mais novas já trabalham e ajudam as Jandaíras na organização da colônia;

2) Ainda restam várias células para nascer e as Jandaíras agora não mais estão matando as mandaçaia recém nascidas, agora é o contrário, vejo que algumas mandaçaia mais velhas estão agarrando as Jandaíras e tentando expulsá-las do ninho;

3) Não vejo mais abelhas mortas na lixeira;

4) Ainda restam por volta de 20 a 25 Jandaíras que continuam a trabalhar 24h, é só pingar alimento que elas já depositam nos potes, são muito espertas, não dão chances aos forídeos, os poucos que entraram foram caçados até morte, algumas larvas de forídeos foram literalmente juntadas numa pilha propolisadas;

5) Parece-me que uma elite de mandaçaias já foi formada e já escolheram inclusive sua futura rainha, a caixa tem várias princesas que estão infladas, contei no início da noite mais de 3, passaram toda noite disputando que seria a eleita para o cargo;

6) Por volta das 3 da manhã uma foi escolhida e todas as outras infladas foram quase que imediatamente sacrificadas, só pouparam as princesas récem nascidas, mas certamente essas também serão sacrificadas;


(princesa de mandaçaia em ritual de aceitação na elite da colônia)

7) Na foto acima podemos ver a escolhida, soltando baforadas na sua elite, por vezes a vi agitar o abdomem e bater as asas em movimentos curtos e rápidos, já é alimentada por várias abelhas e em contra partida ela já está descarregando seu feromônio exatamente nos pelos superior das suas amas;

8) O mais interessante é que uma de suas amas mais fiéis são duas Jandaíras, digo isso pois ela sempre as procuravas para ser alimentada e descarregar sua carga química sobre elas, as Jandaíras após receberem o bafo real ficam literalmente embreagadas e passam a correr de forma desenfreada pelos discos e potes de alimento;

Acho que está tudo bem encaminhado, não abri nenhuma vez ainda o ninho e não pretendo fazer pois se não vai atrapalhar tudo.

O Sigfrid não consegui o inverso, as Mandaçaias se recusaram a criar as Jandaíras e todas que nasciam eram sacrificadas, isso mostra uma série de diferenças comportamentais e feromonias complexas que envolvem as espécies.

Contudo, vem tendo sucesso com outras abelhas. Esse trabalho é muito importante para a meliponicultura pois abre uma grande porta para outras pesquisas na área sobre o assunto.

att,
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Kalhil Pereira França
www.meliponariodosertao.blogspot.com
Mossoró-RN

Abelhas Jandaíras criando Mandaçaias (Mandaíra)

Há dez dias atrás eu iniciei um trabalho de pesquisa que visa avaliar se espécies diferentes de abelhas sem ferrão são capazes de criar outras, esse trabalho é parte de um trabalho maior iniciado pelo amigo e meliponicultor Sigfrid (Santa Catarina), onde observaremos se Jandaíras irão criar e "educar" as Mandaçaias, o nosso objetivo, é verificar se as Jandaíras aceitarão e passaram a conviver em harmonia com as Mandaçaias, nossa intenção é formar uma nova colônia de Mandaçaia a partir de obreiras de Jandaíra e discos de Mandaçaia.

O fruto desse trabalho foi apelidado de Mandaíra.

No dia marcado para o início do trabalho preparei a caixa com os discos e realizei a doação das Jandaíras a nova colônia, contei por alto umas 70 abelhas que foram inseridas na nova colônia. conforme demonstra as fotos em anexo.

Primeiras observações (10 horas depois a noite):

1) Percebi as obreiras de Jandaíra trabalhando normalmente no intuito de continuar a construção do túnel de entrada que eu tinha inciado para facilitar o trabalho delas;

2) observei 8 mandaçaias recém nascidas caminhando normalmente pela colônia, sendo inclusive alimentadas pelas obreiras de Jandaíra;

3) observei, de maneira surpreendente, uma mandaçaia anthidiodes, convivendo perfeitamente em harmonia com as obreiras de Jandaíra, algumas vezes as Jandaíras avançavam em cima dela, mas logo em seguida retroagiam, a impressão que se tem era que a anthidiodes dizia assim: calma, pra que essa violência comigo, sou dá paz, tó aqui apenas pedindo abrigo, posso morar com vcs??? Essa abelha deve ter vindo de uma colônia anthidiodes que eu divi ontem, e como eu deixe a colônia mãe aproximo a caixa da experiência, ela deve ter ficado perdida com a nova localização e foi parar aí atraída pelo cheiro dos discos e da cera na entrada.

4) observei algumas mandaçaias mortas, mas estavam com a cabeça e o corpo inteiro, acredito que morreram no disco mesmo e não foram mortas pelas Jandaíra;

5) vi ainda uma princesa recém nascida de Mandaçaia ser atacada pelas Jandaíras, olhei de novo agora a pouco e ela ainda está na caixinha viva, mas temo que certamente ela vá ser morta pois a colônia foi criada hoje e as Jandaíras ainda estão procurando pela rainha, certamente vão demorar os 3 dias para pararem de procurar por ela;

6) Agora vem a maior surpresa de todas, já estava fechando a caixa quando me aparece essa bela princesa aí, com os anéis do abdomem em estado bem distendido, com a bunda já bem maior que as asas e batendo as asas freneticamente, certamente, ela não é oriunda dos discos dessas caixa, deve ter sido expulsa de sua casa e como parou aí, só Deus sabe, percebi que as Jandaíras não gostavam de seu comportamento de tentar dominar a elite e foi por muitas vezes atacada, e o pior de tudo, foi atacada até pela anthidiodes, o que me deixou ainda mais encucado.


(Caixa pronta)
(Caixa com discos e transparência)
(Jandaíra ocupando caixa com discos de Mandaçaia)
(obreira recém nascida de mandaçaia sendo agarrada pela pata por Jandaíra)


(mandaçaia anthidiodes abrigada pelas Jandaíras, fato muito curioso)
(mandaçaia acabando de nascer)


As fotos seguem em anexo, não estão boas muito boas pois foram feita com o apoio de uma lanterna.


att,

Kalhil Pereira França
Mossoró-RN
www.meliponariodosertao.blogspot.com